31 de agosto de 2008

Wandering Daughter

Tenho medo.

Faz muito tempo que vivo sozinha aqui. Um lugar vazio, em que não tenho nada para fazer. Esqueci até mesmo o som da minha voz. Depois de acordar venho me sentar aqui. Sempre no mesmo lugar. E fito o nada mais bonito que já vi.

O nada preenche tudo o que conheço. Sei que já vivi coisas coloridas, mas agora estou imersa num mundo preto, onde nem sequer o branco existe. Ditei o dia e a noite, na esperança de que, enganando a mim mesma, eu pudesse criar a luz.

Então me sento aqui. E fito o nada mais bonito que já vi. Só aqui o vento traz a areia de um jeito que vejo a silhueta de uma pessoa vindo. Sei que não é verdade, mas gosto de mentir para mim mesma na maioria do tempo.

Tenho medo.

Não da solidão porque já me acostumei a ela. Na verdade, acho que ela é a minha companheira mais fiel. Sem ela eu não saberia trilhar meu caminho; e daí o meu medo.

Tenho medo de a silhueta um dia virar uma pessoa. E se houver mais alguém nesse lugar? Eu já não sei falar, e a minha capacidade de comunicação deve ser nula. O vazio é o meu conforto.

Por muito tempo quis que isso fosse rompido, que eu tivesse alguém com quem pudesse compartilhar o que faço e o que penso. Mas não há nada para fazer ou pensar. Acho que a mesmice culminaria no término. E então eu ficaria só novamente, mas muito mais vazia que agora.

Parou de ventar. Não há mais a silhueta.

Acho que o dia já acabou. É noite; é sempre noite.

4 comentários:

Aimeê disse...

quase senti cheiro de maresia :)

...ou :(?

ah. :|

Flá. disse...

"Solidão é lava que cobre tudo
Amargura em minha boca
Sorri seus dentes de chumbo
Solidão palavra cavada no coração
Resignado e mudo
No compasso da desilusão
Desilusão, desilusão
Danço eu, dança vc
na dança da solidão"

Já dizia Marisa Monte.

Ana EmíliaYamashita disse...

Muito lindo!!! Adorei!!!
Parabéns.
Voltarei maisvezes.
Beijos

Mari disse...

o medo, apesar de às vezes incomodar, é extremamente necessário para tudo na vida. com o perdão do clichê, o mal necessário.

(relaxa, todo mundo tem um momento psicopata na vida ... e todo mundo vive querendo a minha avó! ela é realmente o máximo!! ehehehhe)

Beijos, Mari